Dev Blog #1 | O que ando para aqui a fazer?

Estou no último ano de licenciatura. A terminar o curso de Ciências da Comunicação posso garantir que já tenho as directrizes quase definidas sobre o que quero fazer nos próximos tempos. Descobri-me um pouco mais nos últimos dois anos, mudei a minha forma de estar comigo e de olhar o mundo. Hoje tenho um plano. Partilho, neste meu Dev Blog o que pretendo fazer dele, em que é que estou a trabalhar e o que ando a aprender.

A ideia do Dev Blog surge devido à minha escassa imaginação. Na sua ideia original uma publicação deste género existe quando algo está a ser criado, principalmente no mundo da tecnologia, e para isso todos avanços e actualizações do produto/serviço são publicados numa plataforma semelhante a um blog – Development Blog. Portanto, utilizei este conceito para partilhar o meu desenvolvimento pessoal a nível das skills que pretendo dominar, mais precisamente na área da produção de conteúdo jornalístico a nível visual e textual. Já é alguma coisa, mas não ficarei somente por esses pontos, visto que também irei partilhar todo o desenvolvimento dos meus trabalhos e projectos.

Neste momento estou a desenvolver 3 projectos, sendo que um deles está em stand by. Ainda é cedo para descrever de forma pormenorizada cada um deles, mas aguardo ansiosamente para que estejam prontos. Os dois que estou a desenvolver agora estão em fases diferentes. De modo a distingui-los é melhor atribuir-lhes uma característica: o primeiro é mais pessoal e da-me muita motivação para aprender. Está relacionado com o facto de ser vegan e uma pessoa atenta à questão ambiental e dos direitos dos animais. O segundo é algo associado à universidade e será uma rampa de lançamento, no sentido que  promoverá o meu trabalho e o dos meus colegas para as agências e empresas, contribuindo de forma directa para o meu futuro profissional.

No âmbito do meu desenvolvimento técnico, a nível de skills, enquanto termino o curso estou a melhorar o pouco que sei sobre criação de conteúdo visual, mais precisamente tudo o que está relacionado com design gráfico a nível de ilustração e vídeo. Portanto, este espaço servirá também para postar um pouco do que estou a experimentar.

Fica assim dada esta pequena introdução.

Bem vindos ao meu Dev Blog.

Dev Blog #1 | O que ando para aqui a fazer?

Bullfight is Bullshit

Multiplicam-se as vozes em diferentes espaços de tempo e lugares. A razão é a mesma: aquela pela qual o Homem clama, aplaude, sangra e faz sangrar, com o intuito  de entreter. Uma prática realizada numa praça que serve um espectáculo antigo, tradicional e que põe frente-a-frente o touro contra o cavaleiro, o forcado, o cavalo e todos os restantes intervenientes, incluindo os espectadores. Um só, contra tudo e todos; um com o destino traçado e um momento único, aquele pela qual foram criados, outros em que aquele momento é rotina: o espectáculo tauromáquico. A tauromaquia em Portugal já registou dias mais favoráveis, a pressão dos movimentos e de grupos anti-touradas, as condenações internacionais à actividade, o maior desinteresse crescente e a queda dos números de assistência por espetáculo traduzem-se em esperança para aqueles que dedicam uma vida a combater a favor dos direitos dos animais e humanos.

A história da tauromaquia está marcada por um passado turbulento, passando por picos de êxtase e fama à sua extinção, com algum frequência nos últimos 300 anos. De facto, foi em épocas em que o pais se liberalizava e em que se aproximava dos ideias de outros países europeus que as corridas de touros foram ameaçadas por monarcas no século XIX, na primeira republica e nos dias de hoje. Mas não é um tema fácil de abordar, isto porque é difícil encontrar registos dos momentos mais complicados desta prática. “ Tentei perceber a história das touradas, mas foi um trabalho muito difícil porque os únicos registos que existem são de pessoas ligadas à actividade tauromáquica” afirma Sérgio Caetano,  coordenador da plataforma Basta, um movimento cuja acção incide na abolição das touradas. Os primórdios da actividade registaram diversas mudanças consoante diferentes contextos. O seu passado é marcado  pela forma  como o touro era usado para auxilio ao treino militar, logo, tornou-se uma prática nobre juntos das camadas mais altas de uma sociedade estratificada; contudo, na forma como a conhecemos hoje,   um espectáculo para massas orientado por um grupo fechado, é o resultado de múltiplas transformações necessárias para a sua permanência e aceitação social. O ilumismo, que fixou a chegada das luzes à civilização europeia, manifestou-se em muitos países ao moldar uma nova consciência social e humana, com isto, inúmeros espectáculos que visavam o entretenimento humano com a exploração de um animal foram abolidos. Contudo, nem Portugal que na época tinha como figura pouco entusiasta das touradas o Marquês de Pombal , nem Espanha acompanharam o desenvolvimento cultural de outros países da Europa Ocidental no século XVIII.

Foi durante o liberalismo e a Primeira Republica que a tauromaquia registou as maiores alterações, chegando mesmo a ser abolida por um período, contudo voltando sempre a ser legalizada com novas formas de fazer o espectáculo, foi assim que surgiram os forcados, como meio de substituição do matador, aquele que após o cavaleiro, entrava na praça para matar o touro, em frente ao público. “Na verdade as touradas estiveram proibidas quatro vezes ao longo da História em Portugal, mas acabaram sempre por ser reativadas devido a interesses económicos. Não era uma actividade muito popular ao contrário do que se pensa.” afirma Sérgio Caetano. Quando em 1836 Passos Manuel aboliu as touradas e mais tarde voltaram a ser permitidas, segundo a argumentação de quem é aficionado, isto aconteceu devido à forte pressão popular, contudo os arquivos desmentem a teoria de quem argumenta sob uma visão pró-tauromáquica, demonstrando que a actividade foi retomada por pressão da Santa Casa da Misericórdia e da Casa Pia, devido à dependência que estas organizações tinham da tauromaquia. Na realidade, as corridas de touros sobrevivem ainda devido às transformações que sofreu, “não tenho dúvidas nenhumas em como é devido a isso que a tauromaquia ainda existe”. Por exemplo, a proibição da morte do touro na arena e a censura do embolar dos seus cornos são decisões tomadas com o intuito de preservar a prática e atrair para a arena público mais sensível, visto que o espectáculo da tourada tornou-se menos violento, pelo menos aos olhos do espectador.

Actualmente, o tema da tauromaquia encontra-se como um dos mais polémicos do país; neste âmbito existe uma forte divergência entre os aficionados, ou seja aqueles que têm paixão pela corrida de touros e consequentemente grandes apoiantes da prática, e uma parte cada vez maior da sociedade que se opõe à actividade. Nos últimos anos Lisboa tem sido palco de inúmeras manifestações que apelam à sensibilização, marchas que juntam organizações, partidos e pessoas vêm a tauromaquia como uma forma do homem procurar superar-se ao animal, somente para entretenimento, com uma crueldade irracional e sem justificação.

Numa das manifestações, num dia dos mês de Abril em que a chuva ameaçava uma tarde que se esperar solarenga, ouvem-se gritos e veem-se expressões de quem percebe que na tourada o touro é um mero instrumento de diversão daqueles que assistem, vivem, e apoiam a tauromaquia; assim como o fazem para o touro esta manifestação defende todos os direitos dos animais – “Circos ideias não têm animais”, grita-se. Ouvem-se tambores, os passos, as buzinas, faz-se silêncio. E o barulho retoma. Do campo pequeno, o maior palco tauromáquico do país, até à Assembleia da Republica, passando pelo Saldanha e a estátua do Marquês de Pombal. Pelo caminho existem cabeças nas janelas, pessoas curiosas e turistas surpreendidos pela força pacifica daquele aglomerado de pessoas, pois nos seus países já não se defendem algumas actividades medievais: “Eu não compreendo as touradas, vivo em Inglaterra, e para mim é uma crueldade. Espero que Portugal acabe com a vergonha que são as touradas. Estamos do vosso lado.” afirma uma estrangeira que veio visitar o país, parada junto ao campo pequeno, local em que a manifestação se concentrou antes de marchar.

Portugal e Espanha não são os únicos países em que as touradas são uma prática legal, existem mais 6 – França (no Sul), México, Colômbia, Peru, Equador e Venezuela. “Quando a época das luzes chegou á civilização, esta manifestou-se mais em países como a Alemanha e a Inglaterra, o que fez com estas práticas mais violentas fossem abolidas.” diz Sérgio Caetano, acrescentando que daí se explica o facto de Portugal e Espanha, países onde houve um maior controle monárquico e conservador sobre as actividade, não terem deixado ser locais em que actividades como as touradas tornassem-se proibidas; a tauromaquia na América do Sul é uma consequência do mesmo, mais precisamente, sob a influência espanhola. No entanto, também é possível esperar algo positivo nos próximos tempos, isto devido ao facto de Barcelona já ter abolido a festa tauromáquica e outras regiões espanholas estarem cada vez mais perto de seguir o mesmo caminho. A fronteira entre Portugal e Espanha tornou-se porosa em vários momentos da história de ambos os países relativamente à forma como existe uma cultura que apesar das grandes diferenças não deixar de ter pontos em comum, a esperança de quem luta contra a corrida de touros é que o nosso país siga o mesmo caminho que Barcelona. “Em Espanha, assim como em Portugal, está provado estatisticamente que a maioria da população é contra as touradas”, sublinha Sérgio Caetano.

“Gente educada não vai à tourada!” entoa-se ao longo da Avenida da República, sob olhares de negação, assim como apoios vindos de quem está de fora da escolta policial. “Cruel, assustador, tenebroso, macabro. Não consigo conceber a ideia de alguém ter prazer de ver o animal a sofrer. Eu fui uma vez à tourada e é-me impossível compreender como é que as pessoas aplaudem o momento em que alguém espeta uma farpa no animal. Todos aplaudiam de pé. Parecia um filme de terror.” relata Cristina Piçarra, uma mulher que seguia na marcha juntamente com os seus dois cães rafeiros e de porte médio que a acompanhavam de forma agitada e alegre pela avenida, ao som dos megafones de quem conduz as centenas de pessoas e dos tambores – um dos quais à responsabilidade de um jovem rapaz.

A tauromaquia não é só um tema que alberga e põe em causa os direitos dos animais, de facto trata-se também de uma desumanização, visto que, como Sérgio Caetano defende, não é só o touro nem o cavalo quem sofre no espectáculo: “Provoca muitos acidentes graves, até mortais, a pessoas. É um tipo de prática que já não tem lugar numa sociedade civilizada, está à margem da evolução”, afirma. Mas a preocupação não se prende somente com os adultos: crianças que são desde muito novas habituadas a esta prática, e em alguns casos mais locais em que marcam inclusive presença em actividades como largadas e arenas, são um forte tema de discussão para aqueles que se opõem à tauromaquia. A exposição de crianças a estes eventos ditos culturais já foi estudada por quem quis provar os efeitos nefastos da tauromaquia na mente de um menor. Comprovou-se que não só aumenta a ansiedade e a agressividade de uma criança como cria uma apatia entre a ela e os animais, insensibilizando-a para o sofrimento do touro; o que é mais recorrente e habitual do que se pensa, existe muito gente que acredite que o touro não sofre durante a tourada. Num questionário online, que conta com uma amostra de cerca de 6000 indivíduos de diferentes idades, observa-se que, entre os inquiridos com menos de 25 anos da zona centro do país, 32,9% dos mesmos afirma que o touro não sofre durante o evento tauromáquico. “A forma como as crianças são expostas é de uma gravidade extrema. Eu vi crianças a arriscar a vida em espetáculos tauromáquicos.” diz Sérgio Caetano, num tom mais rápido do que usara outrora, “O público aplaude, porque sente que vai acontecer alguma coisa de emocionante, mas esquece-se que é uma criança que estão a ver. Eu vi algumas a saírem de maca com ferimentos graves. Sem qualquer protecção”. O caso de crianças em espectáculos em Portugal ganhou uma dimensão maior do a que a que muitos esperavam e o Estado Português recebeu o alerta do Comité Internacional dos Direitos da Criança avisa-se o mesmo sobre a situação e que reprovava a postura de indiferença do Estado.

“Não compreendo estas manifestações, parece que não têm mais nada do que fazer senão estar a ocupar as ruas.” diz uma mulher de alguma idade que se fazia acompanhar por um homem, na Praça Duque do Saldanha, enquanto ainda faltavam alguns metros para a chegada da marcha, “(..) as touradas são tradição, nunca vão acabar”, termina. O que não terminava era o som de quem gritava pela causa animal, sempre acompanhado pelo tambor a marcar o ritmo da marcha. Entre todos gritava-se em uníssono uma outra frase de fácil associação: “Tortura sim, cultura não”. Já na praça, quando um jovem faz um gesto menos próprio para os manifestantes anti-tourada, num acto de provocação, a polícia age com um toque de sirene do seu veículo. Mas foi um dos poucos casos de contestação, pois de facto, existe cada vez um maior apoio popular à causa anti-tauromáquica. “Tourada é escravatura”, ouvia-se agora.

Por entre inúmeros gritos, relatos, cartazes, animais e pessoas, a chegada à escadaria da Assembleia da República, quando o dia já terminava, onde a Polícia de Segurança Pública impedia a passagem aos degraus da infraestrutura, o sentimento que se propagava entre os manifestantes era de companheirismo e de quem cumpriu mais um dia na luta por aquilo que acreditava. Entre um dos manifestantes que se encontrava junto à escadaria, pelo menos até onde era possível, estava Marius Kolff, um alemão líder da organização não governamental CAS – acrónimo alemão para Comité Anti-Tourada, de pé, com um ar orgulhoso daquilo que vê. O seu objetivo é abolir por completo esta actividade por todo o mundo, e para isso coopera com organizações de diversos países para trabalhar em conjunto de modo a atingir a sua meta. “Queremos que as pessoas deixem de comprar bilhetes, é o que queremos fazer. Concentramo-nos nas touradas somente. Já falámos com governos de alguns países, inclusive. Temos o objetivo bem definido.” afirma Kolff, acrescentando ainda que é em Portugal que tem o maior número de movimentos com quem trabalha.

“As touradas irão ser abolidas, mas temos que saber esperar. É uma questão de tempo. É necessário atacar o problema de diversas formas, não será uma tarefa concluída só pela manifestação. É isso que o BASTA procura fazer e para tal é preciso cuidado com a forma de agir”, diz Sérgio Caetano, tal como se faz num jogo de xadrez. “É necessário pressionar as instituições e o poder” acrescenta ainda. Até há pouco tempo era a própria actividade tauromáquica que se regulava a si própria, alteravam leis conforme os seus interesse e guiavam-se de forma independente, devido a uma aura de proteção concedida às famílias e instituições que dependem desta prática. Foi uma audiência que alterou o panorama tauromáquico em Portugal em que o movimento Basta esteve presente, junto com o ex-Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho e o ex-Secretário de Estado da Cultura Jorge Barreto Xavier; assim, pela primeira vez, introduziram-se medidas que não tenham sido criadas pelo próprio sector tauromáquico. Uma das mudanças foi a obrigação do aviso em cartazes publicitários de que o espectáculo tauromáquico pode ferir a sensibilidade dos espectadores. “ Foi a primeira vez que o Estado Português admitiu que o espectáculo é violento e pode causar alguma perturbação em quem assiste.”

Uma hora em frente à Assembleia, marcada por minutos de silêncio, momentos de maior tensão, assim como descontração, mas quase sempre guiada por vozes manifestando-se ao ritmo do tambor. Um muro de cartazes e panfletos no início da escadaria coloriam o cinza do piso e a crença na mudança. A manifestação terminou, mas só isso, tudo o resto que falta fazer ainda está por ser feito.

Actualmente ainda existem várias praças de touros no país, contudo nos últimos anos alguns palcos para este espectáculo têem vindo a ser fechados, por falta de dinheiro e aderência do público. Entre as praças, destaca-se a do Campo Pequeno, a maior e utilizada para espectáculos com um cariz diferente: a

Nessa mesma praça do Campo Pequeno, numa noite dias após a marcha, um grupo de manifestantes encontra-se, ameaçado novamente pela chuva, na parte de fora em frente ao palco do espectáculo tauromáquico. Procuram consciencializar a audiência antes do início da abertura da temporada que decorrerá uma hora depois do início dos seus pacíficos manifestos. Mas pacíficos não significa silencioso, e isso fazia-se notar nas vozes de quem marcava presença. Em torno de toda a praça, da porta principal até aos camiões onde os touros esperam para entrar naqueles que serão momentos dolorosos e último, para satisfação de quem gosta de ver a corrida

Bullfight is Bullshit

Thorstein Veblen – A Classe Ociosa

Filho de imigrantes noruegueses, Thorstein Veblen, um economista americano, criou a a Teoria da Classe Ociosa. Aquilo que à primeira vista é um estudo antropológico sobre o comportamento das pessoas com riquezas e posses, que vivem do seu status, é na realidade uma verdadeira sátira à sociedade americana.

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Na sua obra, Veblen, afirma que a competição pecuniária é a força condutora por detrás do desenvolvimento cultural da sociedade. Diferencia dois géneros de grupos: as classes trabalhadores – menos honradas- e as classes ociosas – de riqueza e honradas. A primeira caracteriza-se pelo seu contributo produtivo, mas com um status social inferior; A segunda define-se pela abstenção ao trabalho, não são produtivos e vivem sob o termo do consumo conspícuo, ou seja, marcam a sua posição social através da exibição da riqueza. Surge assim o conceito de emulação pecuniária, que é o esforço para igualar ou superiorizar um status social, através da riqueza e do consumo. Assim o consumo conspícuo advém da definição de emulação pecuniária. Veblen afirma que ” a partir do momento em que o consumo se torna a base de estima da sociedade, torna-se um requisito para a auto-satisfação aquilo a que chamamos de realização individual [tornamo-nos realizados, através do consumo]”.

Para Thorstein Veblen, o consumo material não é a única forma que a classe ociosa tem de se distinguir: o controlo sobre o outro confere-lhe status e poder. De facto, durante a fase selvagem do Homem não existia esta distinção, contudo a partir daí a humanidade tendeu-se a a marcar uma posição de domínio sobre o outro, primeiramente sobre as mulheres e depois com a sociedade feudal, sobre as profissões e a relação de chefia/escravo/opeário. As profissões que conferem honra são as que são menos produtivas, segundo Veblen, tais como guerreiros, padres, desportos, entre outras; enquanto as não honrosas são as mais produtivas e que requerem um maior esforço (agricultores, operários, por exemplo). O autor chama a esta relação de controlador/controlado, honroso/desonroso e a forma como a classe ociosa aproveita-se da classe trabalhadora como de exploração predatória: a partir da sociedade bárbara, a humanidade conheceu o controlo e o poder, desde então a interrelação entre Homens pauta-se entre quem controla e quem é controlado. A exploração predatória tornou-se um exercício de alta dignidade, conferindo à classe trabalhadora uma posição de submissão e incompatibilidade com uma vida honrosa. A honra é a base de distinção entre classes e o seu desenvolvimento.

É a evidência do poder que confere o status, sendo este o valor mais precioso da classe ociosa. Para Veblen existem 4 forma de demonstrar superioridade pecuniária (emulação pecuniária):

  • Acumulação de bens materiais
  • Bens imateriais – Como conhecimento desportivo, pensamentos supérfluos
  • Cultivando Maneiras – com códigos de conduta
  • Por último,  através da chefia, mostrando  controlo- por exemplo, tendo empregadas domésticas.

Veblen, acrescenta ainda que a riqueza é transportada para os nossos hábitos sociais, de modo a evidencia-la. A emulação pecuniária alterou também a noção de estética: o esteticamente belo tornou-se o que é caro, o que é um luxo; não precisa de ser algo útil.

Thorstein Veblen – A Classe Ociosa

Pierre Bourdieu – A Distinção

Pierre Bourdieu foi um sociólogo francês, que no seu livro “A Distinção. Uma Crítica Social a uma Faculdade de Juízo” sustenta a ideia de que os gostos são o marcador privilegiado de cada classe social; estes refletem as necessidades culturais, que são por sua vez o produto da educação de cada indivíduo.

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A definição de uma cultura mais nobre sempre esteve em causa, devido à forma singular como cada grupo vê a cultura e define-a. O olhar é, para Bourdieu, um produto da nossa cultura reproduzido pela educação: as obras de arte, por exemplo, e a sua apreciação dependem da educação de cada um, da cultura de cada individuo. As práticas culturais, juntamente com as preferências nos diversos assuntos estão ligados à educação e à herança familiar. São elas que distinguem o gosto legitimo burguês, as classes médias e as populares. Os gostos são fruto do exercício pedagógico do indivíduo – através da escola ou da família- e definem a visão de cada um sobre o que é esteticamente admirável; por outras palavras, fornecem os códigos para admirar, compreender e classificar algo. Para Pierre Bourdieu o gosto define-se como a aversão e a intolerância às preferências dos outros. Enquanto os gostos de um determinado individuo  são-lhe naturais, os gostos dos outros -que são diferentes- são-lhe contranatura. Deste modo, o gosto classifica e classifica quem classifica. Assim dá-se o processo de distinção entre os grupos, classes sociais e pessoas.

O autor apresenta-nos o conceito de espaço social que nos explica como é que os nossos gostos nos aproximam de um grupo e formam um padrão entre os mesmos, mesmo admitindo (Pierre B.) que a capacidade subjetiva e diferença entre todos nós, faz com que tenhamos gostos que “fujam” ao padrão. O espaço social é uma representação abstrata, generalizada que pode ser apresentada sob a forma de um mapa. Deste modo, surge o conceito habitus, que define-se como o principio gerador de práticas objetivamente classificáveis e  um sistema de classificação dessas práticas; portanto é na relação entre estas duas capacidades que se explica o habitus: na capacidade de produzir práticas e obras classificáveis (a ação em si) e na capacidade de diferenciar e apreciar essas práticas  (os gostos).

Antecedentemente, encontramos as condições de vida, ou seja, todo o processo educativo, familiar, profissional pelo qual o indivíduo cresceu. Assim, condições de vida diferentes produzem habitus diferentes, que simbolizam o mundo de cada um e a forma como cada um simbolizada o dos outros. À medida que subimos hierarquicamente, o estilo de vida ganha mais importância, contudo somos menos competentes na classificação de algo do que alguém que nasceu nesse meio cultural ao qual subimos. Pierre Bourdieu destaca ainda o poder simbólico que a cultura atribui aquilo que nos distingue, como por exemplo um diploma universitário.

Concluíndo, é através dos gostos oriundos da condição de vida que não só distinguimos os diversos grupos sociais, como também é através deles que padronizamos classificações referentes a cada classe. Apresentam um papel fundamental no habitus do indivíduo e delimitam o espaço social de cada um. São autênticos marcadores sociais.

Pierre Bourdieu – A Distinção

Cultura e Subcultura

“A cultura surge como um substituto social do determinismo do instinto”. É a frase-chave de Franco Crespi, um sociólogo italiano, que desenvolveu o conceito de cultura; comparando-o ao instinto animal e à forma como a cultura substitui-o.

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A cultura marca o afastamento do ser humano do animal, a própria palavra “ser” antes de “humano” tem já em consideração o facto de nos distinguirmos por termos consciência da nossa existência, pois “somos algo” ainda que não se saiba exatamente o quê. A cultura é o afastamento do estado animal. O Homem incorpora a cultura e adquire modelos comportamentais, que variam consoante o contexto histórico, social e espacial. Contudo, o ser humano não deixa de ser um animal “diminuído”, na medida em que sem o suporte dos modelos culturais adquiridos desde o nascimento, não saberia como se comportar; isto porque a cultura é um ponto de referência que estabelece com o individuo uma relação de interdependência, de forma a que a cultura necessite do Homem para se fortalecer e permanecer no espaço e no tempo, assim como o Homem vê a cultura como uma bússola em toda a sua existência: na linguagem, na vida social, e por aí em diante.

A cultura desenvolveu uma função de mediação simbólica: a linguagem, as representações da realidade, a filosofia, os modelos comportamentais – em suma, exerce uma função de mediação nas relações com o Eu, com os outros e com as coisas. A cultura cumpre também uma tarefa de redução da complexidade, apesar da sua grande complexidade: seleciona, entre infinitas possibilidades de ação, alguns modelos de comportamento por onde optarmos.

A cultura procura responder à complexidade do real e da experiência, modificando-se; contudo sempre com um deposito de experiência que torna-a natural ao individuo. Deste modo o individuo vive a cultura e é um produto da cultura. “Interioriza o que lhe é exterior e exterioriza o que lhe é interior”.

A reciprocidade de expectativas – ou seja, o facto do outro esperar de nós uma atitude e nós do outro- garante a ordem social. A cultura como uma realidade social em que uma série de actos – que nos são familiares- são realizados por um grande número de indivíduos, garante não só essa mesma reciprocidade de expectativas como uma simplificação e auxilio nas relações interpessoais. Assim surge o paradoxo cultural, que Franco Crespi identifica: ao mesmo tempo que a cultura gerou uma plasticidade enorme na sociedade – na medida em que  entregou modelos comportamentais ao Homem- também atribui-lhe uma certa imprevisibilidade -através do aumento da capacidade de decisão, do maior leque de ação (a que um animal não está sujeito) e pensamento critico.

A cultura é,concluindo, um património de sedimentação das experiências, representações e valores transmitidos através da linguagem, dos textos escritos; que estão na base da memória individual e coletiva.É um conjunto polivalente, heterogénio de representações, códigos, leis, rituais, modelos de comportamento, valores que em cada situação social específica  constituem um conjunto de recursos. Ou seja, um conjunto de formas simbólicas publicamente disponíveis através dos quais os indivíduos, selecionam instrumentos diversos a fim de construírem a sua linha de ação. A cultura é no fundo, uma ferramenta que nos é natural.

Subculturas, ou contraculturas ( apesar de muitos autores não admitirem esta junção) são culturas de grupos minoritários. que partilham uma realidade social, assim como na cultura dominante, com com outros valores. Entre uma subcultura é possível encontrar uma ideologia em comum, como forma de atribuir um significado específico ao mundo: desde modo justifica-se a sua existência. As subculturas caracterizam-se por: Rituais e as rotinas, ou seja as atividades que são partilhadas por cada grupo; uma linguagem própria, uma gíria, assim como uma simbologia que se desenvolve em torno dos significados do universo ideológico da subcultura; e por último, as normas, ou seja, regras de comportamento e as expectativas de reciprocidade.

Cultura e Subcultura

O Mundo das Celebridades

O surgimento da celebridade como hoje a conhecemos está alinhado ao fenómeno da industria da cultura e da mediatização; advém também dos novos valores culturais que começaram por surgir há já algum tempo – a partir da revolução francesa e da independência independência dos USA – com a introdução da liberdade no seio da humanidade, e posteriormente com outros fenómenos, a liberalização do consumo e dos mercados. O cinema, a imprensa e a imagem forneceram as primeiras estrelas. O grande ecrã expandiu a cultura de modo a que um individuo fosse idolatrado como um deus – como o caso de Charlie Chaplin e de Marilyn Monroe. Contudo a partir da segunda metade do século XX, dá-se um fenómeno de massificação e assim o conceito de celebridade torna-se mais amplo, ou diga-mos antes, atinge uma nova categorização na sua terminologia. A fama da celebridade passa a ser de certo modo uma fama “inferior”, desligada do mérito; num processo onde os média são responsáveis pela sua divulgação, principalmente a televisão. Isto também só foi possível devido à maior alfabetização e à difusão de imagens.

A celebridade surge num momento de extrema mediação, quando a vida privada tornou-se num bem publico comerciável, em que o consumo é a palavra de ordem; assim a celebridade ficou associada a um conjunto de significados culturais. As celebridades tornaram-se verdadeiras ídolos, endeusados pelos seus fãs.

Segundo Rogen, distinguem-se três géneros diferentes de estrelas célebres sendo que podem conjugar-se:

  • A celebridade herdada – Celebridade devido à linhagem, ou seja, herança familiar.
  • A celebridade conquistada – Surge por exemplo através do desporto, ou da politica. É a que tem o mérito de ser uma estrela.
  • A celebridade atribuída Advém do fenómeno da mediatização e das massas, é muitas vezes uma fama passageira. É neste ponto que observamos o poder precário da celebridade, dependente dos media.

“A exposição dos media é o oxigénio que sustenta a celebridade contemporânea”. Os media tornaram-se verdadeiros fornecedores de figuras célebres, o que fez deles intermediários de uma galáxia onde a industria da cultura, as celebridades e as marcas coexistem, com o objetivo de criar famosos, sustentar um ciclo e lucrar com ele.

Um chavão para o financiamento deste sistema são as personalidades televisivas, pois são naturais e próximas às audiências: de tal forma que as massas vêem-nas na sua intimidade do lar e rotineiramente. Como exemplo, entre tantos outros, podemos observar os celetoids, por outras palavras, celebridades do género “atribuído” que representam o vulgar, veem de origem social modesta – as figuras públicas que ganharam fama através de reality show, são celetoids-. O papel dos media, mais precisamente da televisão, no mundo industrio-cultural derrubou o muro que separava a figura do cinema do ator das novelas e séries da televisão.

Na dimensão do mundo cultural promovido pelo culto à celebridade, surge espaço para as marcas; estas usam o valor da figura pública para promover o ser produto, o que resulta num encontro de interesses: a marca vende o seu produto, expõe-no e a celebridade aumenta o seu valor, assim como o do produto. Consequentemente, a estrela vê a sua vida privada tornar-se parte integrante de um ciclo, transformando-se em mercadoria comercial, uma autentica montra endeusada. Existe por tanto, entre os media, os agentes, a industria, as marcas e as figuras uma relação de “dependência mútua, cooptação, batalha e negociação.”

Neste sentido, numa relação em que se encontram vários agentes ( no sentido lato, não como profissão) oriundos da industrialização da cultura, a celebridade, que tornou-se um reflexo da circulação entre domínios culturais e mediáticos, é o “suporte da publicidade, etiqueta destinada a servir a promoção de diversos produtos”.

Assim, introduzo o termo aura, ou seja, uma “sinergia” – logo, imaterial- que as figuras públicas detêm, tornando-as verdadeiros idolos e símbolos sociais – originando um culto digno de um deus. As celebridades que possuem esta aura têm uma atenção especial das marcas, que procuram que os seus produtos sejam usados pelas figuras publicas, e deste modo, beneficiam da aura da celebridade que é transportada também para a marca. Este processo ocorre porque o “valor literal e simbólico de ter alguém famosos a «viver» nas suas roupas,a usar os seus óculos (..) é imenso.”. Devido à pressão da fama e das marcas, a celebridade vê a sua vida privada conjugada com a pública. Um verdadeiro contrato de vinte e quatro horas por dia.

Miss Puffy is Famous by JessiBeans jessibeans.deviantart.com/

A expansão da cultura das celebridades originou uma tremenda competitividade em toda a industria da cultura. Os media criam as suas próprias celebridades de modo a promoverem os seus canais: os globos de ouros, são um ritual de admiração usado para promover as figuras publicas ligadas à sic, de modo atribuir às suas celebridades. Assim “guardam e criam sinergias corporativas entre cadeias noticiosas e os seus aglomerados baseados em entretenimento.”

As celebridades, pelo menos as do género “atribuído” são admiradas pelo seu estilo de vida, não pelas suas responsabilidades. Representam aquilo que as audiências querem ver, mas também, por vezes, grupos minoritários. “O papel da celebridade é assim na sua construção, não uma simples questão de encontrar para si um modelo de comportamento a imitar, mas antes uma negociação de valores na esfera pública.” Deste modo, as instituições conseguem chegar a quase todas as audiências.

O Mundo das Celebridades

Norbert Elias – Processo Civilizacional

Norbert Elias, um sociólogo alemão, no seu investigativo procurou interpretar aquilo que aparentemente nos parece fútil: maneiras de gerir as funções corporais, maneira de sentar à mesa, assoar, cuspir, entre outras.

Como manual de civilidade o autor observou a evolução dos costumes – que aceleraram numa direção tendenciosa a partir do século XVII – criando assim o termo processo civilizacional. Constatou que o ser humano procura repelir de si tudo aquilo que revela a sua natureza animal, ou seja, numa linha temporária imaginaria, a humanidade com o passar dos séculos e conforme aumenta o seu nível de civilidade procura afastar-se cada vez mais do seu estado primitivo. Tudo aquilo que está associado a comportamentos deste género é reservado à sua intimidade de individuo, tornando-o menos visível. Hoje, mostra-se menos a nudez, dissimula-se odores corporais, já não se come com as mãos, por exemplo.

No fundo isto é algo natural e modelado pelo contexto histórico e social. No processo civilizacional a mudança de costumes ocorre por aquilo que a que Norbert Elias apelida de limiar da vergonha, por outras palavras, o facto de sentirmos incomodo pelos costumes do outro. Relativamente aos nossos (costumes), muitos estão-nos incorporados e são-nos naturais. É deste modo que surge as regras de conduta, contando-nos o que devemos ou não fazer.

O processo civilizacional ocorre à escala coletiva, contudo é possível observa-lo a nível individual, isto porque cada individuo percorre por sua própria conta o processo civilizacional que a sociedade percorre-  afinal, uma criança não nasce civilizada.

Todo este procedimento não é de curta, mas sim de longa duração; com momentos de aceleração (a utilização dos garfos e a forma como se propagou para todas as classes em tão poucas gerações), momentos de estagnação e de regressão.

An Unusual Family With The Usual Manners! by sinakasra sinakasra.deviantart.com

Deste modo, Norbert Elias fala-nos do termo subida do limiar da sensibilidade que explica, por exemplo a melhoria do saneamento e a invenção de utensílios ligados às funções corporais. Do mesmo termo compreende-se, considerando a evolução do processo civilizacional, o porquê dos costumes dos Homens mais ricos da idade media dar-nos mais repudio do que dos costumes do camponês mais pobre atualmente.

Mas o que determina então a evolução? Segundo Elias é o termo a que chama de interdependência – ou seja, ás relações dos indivíduos entre si e a necessidade que existe em cada um nessas mesmas relações – assim como é o processo de distanciamento que ocorre devido ao desejo de distinção – que é o motor do processo civilizacional.

Como exemplo, as novas maneiras mais civilizadas começaram por ser elaboradas pela aristocracia da corte e depois transmitiram-se para as outras classes sociais. Foram os hábitos da corte e a difusão dos mesmos às camadas mais baixas que manteve o movimento do comportamento do estrato superior. “Os burgueses são influenciados pelo comportamento dos homens da corte, e os homens da corte influenciados pelo comportamento dos burgueses.”

Norbert Elias – Processo Civilizacional

Repetição de palavras de forma expoente.

No meio das ruas da cidade com tantas vozes no caminho

cada viagem tem o seu sentido… eu não sei o seu sentido;

Enquanto grito para a consciência lá fora todos me ignoram

é por serem todos iguais que só no meu mundo procuro conhecer o mundo la fora.

E eu só p’ra mim, sozinho eu vou

Contigo aqui, num leve toque

Sou mais eu assim.

Nas caixas da memória que nunca tive, mas hei de escreve-las contigo,

Nas mãos de uma criança que sempre quis ser por dentro mas só o sou sem querer por fora, e quando o sou por dentro deito logo para fora,

E não é por estar a escrever mas sinto-me vazio por dentro e por fora.

E eu só p’ra mim, sozinho eu vou

Contigo aqui, num leve toque

Sou mais eu assim.

Hoje vi mais do que ontem,

Das escadas do prédio até ao metro, nos bancos da carruagem do metro, na avenida após sair do metro,

E hoje eu vi tantas cores, pena não conhecer o outro, pena não conheceres o outro,

Tristes nós que lemos tanto sobre nós,

Mas tão pouco sobre o outro. Podíamos, mas não queremos. Conhecer o outro.

Repetição de palavras de forma expoente.